“substantivo masculino – Aquilo que tem que ser; o que acontece independentemente da vontade humana; destino, sina, vaticínio, oráculo, profecia”.
Pesquisa aí a palavra. Eu já trouxe o significado. Quer que eu faça tudo por você?
Meus olhos moFADOS cheiraram cada canto desse quarto. Busquei bilhetes, fotografias, suas botas. Tentei limpar o canto da boca com lágrimas, mas me esqueci de que minhas mãos estão coladas junto ao corpo teu; elas passeiam entre as cortinas e casacos. Meus moFADOS olhos cheiraram um suéter seu. Não tinha mais cheiro. A morte leva junto de si o amor e a esperança do reencontro.
Eu me escondo atrás das portas que abrem e fecham e pronunciam o meu nome. Sempre digo “estou no banho”. Nem verdade é. Eu me envergo e me envergonho no vai e vem do ventila-DOR. Eu ligo o abajur, mas vejo você. Não, eu não quero ver você assim. Queria te ter presente em cachos, melancia e gargalhada.
Eu me sinto cansada e ofegante. Eu esqueci os remédios no bolso, junto com um papel lotado de poesia e quinze números para jogar no concurso 3084 da lotofácil. Tentei de propósito alterar a química reversa do meu cérebro. Como seria viver um diazinho sem estar dopada? O resultado não foi bom, como você pode perceber. Você está lendo o resultado da ausência de amor tarja preta na vida de um poeta.
Por piedade, dá-me um colírio que mofe mais os olhos. É destino, profecia; por piedade, jogue lama no meu corpo, ácido, cuspe e pedras. Pai, não afasta de mim esse fado.
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